Vale-tudo em cima do ringue
A modalidade desportiva de combate ou MMA (Mixed Martial Arts) conquistou o mundo e também tem cativado os baianos.
Com poucas regras, mas suficientes para preservar a integridade física dos atletas, técnica, habilidade, agilidade e muito treinamento são fatores necessários para a formação de um bom lutador.
No palco do confronto, a famosa arena de oito lados: dois lutadores têm três rounds de cinco minutos para mostrar que são capazes de derrotar o adversário.
Usando luvas que deixam os dedos sem proteção, os “guerreiros”, como os atletas gostam de ser chamados, aplicam todos os tipos de golpes: socos, pontapés, joelhadas, cotoveladas, as famosas “chaves de braço”, que abatem o adversário.
Golpes provenientes de diversas artes marciais, como jiu-jitsu, boxe, judô, muay thai, karatê, entre outras são também utilizados. Mas eles também precisam usar a inteligência, fator indispensável em cima do ringue.
Há mais de 30 anos, os desafios de vale-tudo no Brasil, se popularizaram com a família Gracie, responsável pela criação de torneios, dos quais participavam judocas, capoeiristas, boxeadores, entre outros esportistas que buscavam impor a sua modalidade.
Diversos campeonatos foram criados pelo mundo. As competições mais famosas como o Ultimate Fighting, nos Estados Unidos, e o Pride, no Japão, levam até 200 mil espectadores aos estádios e têm mais popularidade que esportes como o futebol e o basquete.
Em Salvador, não é diferente. Competições, campeonatos e muitas lutas comprovam o crescimento da modalidade.
“Os novos eventos que estão vindo do eixo Rio - São Paulo estão contribuindo para o aumento da prática da modalidade. Salvador está se destacando em todo o país, os novos atletas estão fazendo bonito, honrando o seu estado”, afirma o lutador de vale-tudo Bruno de Oliveira Santos, o “Bruno Carioca”.
Além das inúmeras dificuldades enfrentadas diariamente pelos atletas, a falta de patrocínios e o preconceito são duas barreiras que precisam ser superadas para um maior destaque do vale-tudo.
Por ser classificado como um esporte “sangrento”, muitas pessoas o descriminam. Para Paulo Munis, professor de Jiu-Jitsu e lutador, essa discriminação é percebida freqüentemente. “A mídia não tem bons olhos para com o vale-tudo.
Ele é visto como um esporte violento, sem regras, conseqüentemente a população encara de forma negativa, gerando esse terrível preconceito”, conclui Paulo.
OLHAR TORTO - Eric Barbosa, ou “Parrudo” como é conhecido, obteve recentemente mais uma vitória em sua carreira e encara o preconceito de forma tranqüila, porém, nota “olhares estranhos” na rua.
“Às vezes ao sair de casa, percebo aquele olhar diferente, meio torto e aquela cara assustada, pois somos classificados como pessoas violentas à procura de briga e confusão, o que é totalmente errado. É difícil quebrar essa visão, mas, tentamos impor respeito e seriedade no que fazemos. Somos lutadores apenas em cima do ringue, fora, somos seres humanos, como qualquer outro”, desabafa o lutador Bruno Carioca.
David Pinto, praticante amador de jiu-jitsu e boxe há mais de dez anos, classifica o esporte como outro qualquer, com regras que devem ser respeitadas. “As pessoas enxergam com outros olhos, mas sem motivos.
É uma modalidade igual ao karatê, ao boxe, judô etc. Temos que respeitar e entender que o vale-tudo é apenas em cima do ringue e não fora”, opina.
A prática do vale-tudo tem se tornado constante nas academias soteropolitanas. A dedicação dos atletas profissionais que treinam diariamente, de seis a oito horas, é recompensada a cada vitória obtida no ringue.
Para Paulo Munis, professor de vale-tudo, o esporte também sofre com lutadores amadores que dizem ser “profissionais”, porém, sempre brigam em festas, boates e nas ruas.
“Certas pessoas que se dizem atletas merecem ser punidas, pois, praticam o esporte com o objetivo de sair na rua e brigar. Lutador profissional nunca vai cometer essas atitudes inconseqüentes e amadoras. Por isso, muitas vezes, a imagem do vale-tudo é comprometida e o preconceito é gerado”, concluiu.
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